Virgílio Costa e Tarciso Prado |
Virgílio Costa é jornalista, Mestre em Pintura e PHD em Artes e Humanidades pela New York University e Doutor em História Social conforme reconhecimento do PHD pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Abaixo o texto da prometida
entrevista com Virgílio Costa, sobre Francisco Pereira da Silva:
ZAN - O Piauí trata bem a memória de seu mais
conhecido dramaturgo a nível nacional e até internacional, Chico Pereira?
VIRGÍLIO
- Francisco Pereira da Silva, meu tio, sempre foi considerado, nos meios
teatrais, daqueles dramaturgos que a critica, os diretores, os atores, têm na
mais alta conta, mas que, por alguma razão, não têm muito público. O Piauí está
agora, espontaneamente, procurando dar reconhecimento e valor à obra dele; isto
é tratar bem a memória dele.
ZAN - Foi criado por lei estadual de 2004, um
Memorial Francisco Pereira da Silva, em sua cidade natal, Campo Maior, que
nunca saiu do papel... O que o senhor acha disso?
VIRGÍLIO
- O governado Wilson Martins, o secretário da Educação e Cultura, Átila Lira, e
a presidente da Fundação Cultural do Piauí, BidE Lima, me disseram que vão
transformar em realidade o que foi previsto na lei.
ZAN - Qual a importância da obra de Chico Pereira,
na dramaturgia nacional?
VIRGÍLIO
- A meu ver foi ele ter juntado em sua obra, ao mesmo tempo, a consciência dos
problemas sociais, o amor por sua terra natal (Piauí e Campo Maior), um forte
sentimento do ser brasileiro, com humor e generosidade, uma depurada linguagem
e uma intensa poesia.
ZAN - Chico
Pereira teve suas peças montadas nos anos 50 e 60, época em que surgiram outros
dramaturgos como Ariano Suassuna e Dias Gomes, para citar apenas dois dos mais
conhecidos... Na sua opinião, por que a obra de Chico Pereira, nem ele como dramaturgo,
ficaram tão conhecidos?
VIRGÍLIO
- Vários fatores: O Brasil de quando ele começou a escrever peças de denúncia
social, não estava preparado para ouvir isso. O Piaui também, muito presente na
obra, não deixa de ser visto com algum preconceito pelo país. Finalmente, o
Chico nunca foi capaz de badalar ou se auto-promover.
Além
disso, é preciso lembrar que tudo tem a sua hora. Existe uma certa
imponderabilidade do destino no mundo das artes. Na Idade Média, acreditava-se
numa Roda da Fortuna: uma hora estava-se por cima, logo por baixo. Acredito que
a roda está levando o Chico para cima, e de forma permanente.
ZAN - Você é dos parentes de Chico Pereira, o que
mais conviveu e conheceu de perto Chico Pereira. Como era a pessoa de Chico
Pereira?
VIRGÍLIO
- Uma das pessoas mais generosas e doces que já conheci. Capaz de ver poesia
nas coisas mais simples e variadas. Ao mesmo tempo, via sempre as coisas com
muito humor, às vezes com muita ironia.
ZAN - Em
que medida, o fato de ele ter nascido e passado a infância e adolescência em
Campo Maior, influenciou sua obra?
VIRGÍLIO
- Toda a obra dele tem o cheiro e o sabor de campo maior: um cheiro de
limãozinho pisado e um gosto de doce de buriti.
ZAN - Depois que ele se mudou para o Rio de Janeiro,
ele voltou muitas vezes a Campo Maior?
VIRGÍLIO
- Voltou poucas vezes, bem menos do que gostaria. Como funcionário público,
bibliotecário da Biblioteca Nacional, tinha um salário modesto. Além disso, no
tempo que ele foi para o Rio, nos meados do do século, vir do Rio ao Piauí não
era fácil como hoje.
ZAN - Além de peças, Chico Pereira escreveu contos e
romances, pelo que sei. Em que medida a dramaturgia obscureceu seu lado
contista ou romancista?
VIRGÍLIO
- No começo da carreira, escreveu contos. A forma teatral, entretanto, foi
dominando a sua expressão: foi nela que se encontrou inteiramente. Também não
se pode deixar de lado duas fortes influências: a poesia e o teatro de Federico
Garcia Lorca e os cordéis e cantadores nordestinos.
Chico
preparou seu ofício cuidadosamente, chegando cedo ao amadurecimento. A partir daí,
até suas últimas peças, todo o seu teatro tem o mesmo alto nível.
No
final de sua vida, algo desgostoso com a recepção que deram a algumas de suas
peças, parou de escrever para teatro. Escreveu então um Romance-cordel (A Revocata) e um livro de contos (Um dia de Sol no Kilimanjaro). Ambos
ainda estão inéditos.
ZAN - De
que forma, na sua opinião, o lançamento da obra dramatúrgica completa de Chico
Pereira poderá torná-lo mais conhecido?
VIRGÍLIO
- Até agora, ele tinha apenas seis peças em livro. Publiquei agora o teatro
integral, com 32 peças, quinze das quais inéditas.
Agora
os que fazem teatro terão toda a obra a seu dispor. Levou 20 anos para
conseguir que a Funarte publicasse o livro (foi em 1988, apenas 3 anos após a
morte do Chico, que Carlos Miranda, então presidente da Fundação de Artes
Cênicas, me convidou para prepará-lo,
Aliás,
a Funarte devia distribuir mais o livro, pois só coloca ele à venda nas 5
livrarias da instituição.
ZAN - Eu
sou campomaiorense e cometo meus delitos dramatúrgicos, já escrevi até um Auto
de Santo Antonio, o santo padroeiro de nossa terra, que dirigi e produzi em 2009...
Tenho algum conhecimento da obra e vida de Chico Pereira, o conheci
pessoalmente quando esteve aqui em 78 e me sinto envergonhado pela forma como
meus conterrâneos, a maioria deles, claro, desconhecem-no e a sua obra... Acho
que a cidade tem uma dívida que não sabe como resgatar com a obra de
Chico... O que o senhor acha disso?
Tenho
certeza que Campo Maior encontrará um meio de homenageá-lo. Agora mesmo, a Prefeitura da cidade, a Academia de Arte e Letras de Campo Maior-ACALE,
e a Associação dos Criadores de Caprinos (que possui o sítio onde Chico passou
sua infância) estão
buscando um meio conjunto de fazê-lo.
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