domingo, 1 de abril de 2012

A volta dos anjos



Romance metafísico
Capítulo I
No princípio dos tempos, os anjos habitavam a terra, convivendo e se entendendo e  se desentendendo com Deus e entre si, livremente.
Profecias antigas dizem que no Final dos Tempos eles voltariam.
Eles voltaram e estão por aí, observando o mundo e seus descaminhos.
As guerras. As guerras se tornaram cada vez mais sofisticadas. Cada vez matam menos, mas têm o poder potencial de destruir o mundo e já o teriam destruído se Deus não tivesse intervido. Guerras ancestrais, de povos que brigam desde que existem, ameaçando com suas querelas paroquiais, o mundo todo, em nome de seus deuses tão pequenos quanto eles. De armas sofisticadas, aviões-robôs que matam duas, tres pessoas, remotamente, pontualmente, cirurgicamente. De pessoas que se explodem por um lugar nos seus céus particulares que cabem todo tipo de fanatismo cego e ensandecido. Ódio religioso, ódio histórico, morte, sofrimento em nome de quase nada.
Guerras pequenas, localizadas, por pontos de vendas de prazeres artificiais, pequenas substancias que levam à morte e destruição tanto quanto uma guerra convencional num campo de batalha. O dinheiro por trás de tudo, comprando o que pode comprar. Ilusões vendidas por todo preço e prazo A infelicidade atraindo infelicidade sob a ilusão de trilhas sonoras ou visuais que compõem o quadro dantesco magnificamente emoldurado por alta tecnologia. A falsa ilusão de potência pelo que o dinheiro pode comprar e perverter. A efemeridade ao alcance de todos que podem e conseguem comprar a qualquer custo.
Guerra pelo desvario do consumo supérfluo fundamental para alimentar ilusões de que o último modelo de qualquer coisa vai me transformar num super-homem capaz de me sentir o máximo em tudo por tudo. Meu carro, minha casa, minha família, minha conta bancária, meus amigos, tudo meu até o dia em que tudo isso pra mim não passar de um sepulcro caiado, eu debaixo de sete palmos ou transformado em pó, sem poder gozar ou usufruir daquilo, coitado...  Tudo acumulado por amor à ideia de que era perene e sustentável a minha  luta pelo meu destino, meu futuro, minha realização pessoal, minha alta auto-estima, tudo transformado duma hora pra outra em pó... “Tu és pó e ao pó voltarás...”

Extraído do www.folhetimdozan.blogspot.com

2 comentários:

  1. José Miranda Filho2 de abril de 2012 às 05:44

    Muito bom, seu Pinuca. Agora, é dar continuidade ao romance. Eu me lembro de que começou outro, no blog Bitorocara, tendo o primeiro capítulo se passou numa praça, parece-me que a Ruy Barbosa. Mas ficou no capítulo inicial, o que foi uma pena. Quero ver o novo completo.

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  2. José Miranda Filho2 de abril de 2012 às 19:59

    "Sendo que o primeiro capítulo...". Foi isto que eu quis dizer, Pinuca.

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