Bob Fernandes
Tô pensando que hoje, agora, o Santos FC faz 100 anos. E que eu assisti, atrás do alambrado ou nas arquibancadas da Vila, em São Paulo e Brasil afora, centenas e centenas de maravilhosos jogos do Santos. Pensando que meu querido pai, Henrique, torcedor fanático do Bahêa, se apaixonou também pelo Santos depois do título brasileiro em 1959. E que assim nasci santista.
Deslumbrado, grudado no rádio a ouvir os locutores urrando gols maravilhosos, jogadas de sonho, obviamente impossíveis a qualquer outro time que não tivesse Gilmar, Mauro, Joel, Dalmo, Zito, Mengálvio, Dorval, Coutinho, Pelé, Pepe, Abel, Lima, (Pagão, já não estava) Claudio, Carlos Alberto, Rildo, Manuel Maria, Toninho Guerreiro, Ramos Delgado, Cejas, Almir, Clodoaldo, Edu…e depois todos e tantos até Ganso e Neymar.
Nos sonhos de um menino, heróis e narradores dos épicos se confundiam. Viviam em dimensões diferentes, mas no calor das batalhas estavam juntos.
A história do Santos era contada, vivida por Pedro Luis e Mário Moraes na Rádio Nacional, Fiori Gigliotti, na Bandeirantes, Joseval Peixoto e o Zé das Docas no "Show Coimbra, Sérgio Baklanos e Geraldo Bretas na Tv Tupi, Geraldo José de Almeida e o seu "craque café", Fernando Solera… No Rio de Janeiro, Maracanã, um palco à altura do Santos, em lendas narradas por Oduvaldo Cozzi, Valdir Amaral, Rui Porto, Mário Vianna, João Saldanha…
Penso, lembro que aos 10 anos pulei o muro e fugi de casa para, em companhia do mano Fred, ver Pelé. Assistir Bragantino 2, Santos 3. Jogaço. Interminável. Três de Pelé. Wilsinho e, se não me engano, Norberto para o Bragantino.
Castigo de mãe, um pai nem pensaria numa aberração dessas. O pai, a fazer de conta que caçava os fugitivos, mas pendurado no alambrado do Marcelo Steffani. Pulando, gargalhando com o terceiro do Rei, o desempate nos minutos finais. No domingo seguinte, o castigo enfim aplicado: a proibição de ver Bragantino x Corinthians. (Absolutamente desimportante.)
Que nome mágico: Pelé. Nas capas de O Cruzeiro, dos jornais, colado nas paredes dos bares, em Olímpia, na padaria no Largo das Pedras, em Bragança, "Ele", socando o ar na propaganda de Biotônico Fontoura. Nas rádios… "Be-a-bá, Be-é-bé, Be-i-Bi-otônico Fontoura!!!"
E o Santos ganhando tudo. Por uma eterna, infindável década e meia.
Já jornalista, véspera da Copa de 98, horas de entrevista. Com Pelé e Nilton Santos. Naquela tarde, em Brasília, na conversa com Nilton Santos "Ele" disputou um chapéu aplicado por Nilton, a "A Enciclopédia", num Santos e Botafogo de 1958:
- Agora me lembro… um chapéu… mas foi "sem querer" -, dividiu Pelé, e ali entendi do que é feito, como se faz e, também, como se mantém um Rei e sua lenda.
Depois da entrevista, paletó e gravata atirados no gramado, tabelinhas, embaixadas, bate-bola com Pelé. E fotos, claro! Provas da história que atravessará gerações:
- …Pois é… eu joguei um pouco com o Pelé, sabe?… (só por uns minutinhos, mas isso é detalhe…)
Minhas filhas ainda pequeníssimas, levei-as ao MASP para ver a exposição "Pelé". Emoção rara. Profunda. Logo à entrada, as mãozinhas seguras pelas minhas, a percepção de como um time, um ídolo da infância pode perpetuar-se, te tocar para sempre. Permanecer na sua linha do tempo, aja o que houver, viva, pense, ame e racionalize você seja lá o que for.
Como será com elas, tantos os títulos e beleza nesse século XXI. O Barça é uma derrota e uma meta em meio aos brasileiros, paulistas, à Copa do Brasil e a Libertadores.
Aos 100 anos, hoje, uma história única no futebol brasileiro. Tempos ruins existiram, sempre existirão para todos, mas um time, acima de todos no Brasil, buscou, perseguiu por toda sua gloriosa história, a beleza.
Mesmo em tempos medíocres, de entressafras, a busca da beleza; às vezes desesperada, às vezes patética, mas, sempre, a mesma busca. Do espetáculo. Do "Vai pra cima deles, Santos, vai com determinação, tu que és o glorioso…"
Santos, não por acaso o grande time que até hoje mais gols fez, 11 mil e tantos, na história do futebol mundial.
Mesmo em tempos de modorra, um Ailton Lira, um Pita, o Dom Giovanni… por que a plateia merece, quer, precisa da beleza. Essa uma diferença, se ainda não vocalizada, tornada concreta, já percebida pelo inconsciente das arquibancadas, intuída Brasil afora: Santos Futebol Clube, a história de um time que persegue a beleza do futebol.
Não é acaso tantos e tantos, do começo da história até Ganso e Neymar, passando por Pelé e & Cia. É destino.
Extraído do site Terramagazine
Pelé no twitter:"Here's to another 100 years.Very proud to be here today".Mensagem postada pelo Rei, por ocasião do lançamento de uniforme e comemoração do centenário do Santos Futebol Clube, na Vila Belmiro em Santos.Estou aqui para mais outros 100 anos.E com muito orgulho de estar aqui hoje. Pelé, o eterno, estará na história não apenas pelos próximos 100 anos, mas pelos séculos que virão.
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