A vida e carreira do diretor de cinema brasileiro Walter Moreira Salles me atraem não só pela coisa puramente artística de sua obra. Sua vida também me atrai talvez pelo fato de que, como pessoas que perderam a mãe quando ainda era adolescente, ele com o agravante de ter perdido a sua por suicídio, se percebe nos seus filmes, principalmente no “Central do Brasil”, pra mim o melhor deles, que ele conscientemente ou não, meio que procura por uma “mãe perdida”... Nos anos 80, eu em Brasília com uma mulher e dois filhos pequenos a que se juntaram mais dois em quatro anos, comecei a ler um tipo de literatura que ficou na moda, então, os autores da chamada geração “beatnik”, Jack Kerouak, Allen Ginsberg, William Bourroughs. Agora, Waltinho Moreira Salles, nascido filho de banqueiro mas com alma de pobre sofrido (podem rir da idéia... rs rs rs...) transforma em filme o mais conhecido romance desse movimento, um livro chamado “On the Road” ou “Pé na estrada” no nosso português..., do mais desesperado desses escritores (talvez por isso o que mais cedo passou desta pra outra menos ruim...), Jack Kerouac... Devorava esses livros tentando fugir do tédio de ser uma coisa que eu não sei bem como é que eu consegui aguentar por tanto tempo (mais de vinte anos): bancário e pacato pai de família, comprando os livrinhos ali numa livrariazinha na Galeria dos Estados,saindo ali pela passagem subterrânea em frente ao prédio da Agencia Central do Banco do Brasil... Bom, o filme está em Cannes disputando a Palma de Ouro e com a torcida da mídia brasileira que adora bajular os filhos da elite que viram outra coisa menos elite, não sendo isso menos ruim do que não gostar da arte cara por ele ter vindo de onde veio (que é outra prova do chamado complexo de inferioridade cultural brasileira de que Glauber Rocha falava no desespero de seus últimos anos...) Li e reli e preciso reler de novo “On the Road”, pra me lembrar de quando eu comecei a deixar de ser bom, puro e besta... e esperar pra ver o filme que será lançado no Brasil em julho próximo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário