Bob Fernandes
É do
século XVII a definição de diplomacia de um certo Henry Wotton. Disse ele:
- O
diplomata é um homem correto enviado ao estrangeiro para mentir por sua
pátria.
Líderes
dos Estados Unidos têm mentido para o Brasil.
Há meses,
vazadas por Edward Snowden, detalhes de como os EUA espionam o mundo e o
Brasil. Há três semanas, John Kerry, Secretário de Estado norte-americano,
esteve em Brasília. E nem mentiu tanto. Mas omitiu muito.
Kerry, em
resumo, disse que para "se defender e ao mundo" seu país se vê no
direto de espionar. A 19 de julho o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, ligou
para a presidente Dilma. Lamentou a repercussão da ciberespionagem e disse que
não era bem aquilo.
Como são
muitos os interesses bilaterais, a diplomacia entrou em campo. Os
norte-americanos fingiram que se desculpavam e o Brasil fingiu que acreditava.
Tudo se arrumava para a visita de Dilma a Obama em outubro.
O que
agora é noticia não é novo nem deveria surpreender. Mas reabre a ferida. Via
Snowden se conta que uma agência dos Estados Unidos, a National Security Agency
(NSA), espionou Dilma e assessores.
Há dois
meses detalhamos aqui como agências norte-americanas, CIA, FBI, DEA,
NSA… espionaram, espionam o Brasil.
Como até
2002, ao menos, a CIA operava em uma instalação da Polícia Federal. Instalação
doada pela CIA ao Brasil nos anos 80.
Até 2002
a CIA operava em 15 bases espalhadas pelo país; para espionagem política,
industrial… Em ação conjunta, grampeou o ex-presidente Fernando Henrique. Assim
como grampeou o Palácio da Alvorada e o Itamaraty.
Entre
1999 e 2004 essa história foi contada. Em 8 reportagens e 72 páginas. Com nomes
dos chefes das agências de espionagem. Com contracheques do dinheiro depositado
para delegados da PF.
Até
meados dos anos 2000 a espionagem era artesanal, no varejo. Em plena era
digital, se aprofundou no atacadão das infovias. Além do óbvio interesse de
Estado, existe outro, mais prosaico, próprio dos humanos: a sobrevivência. O
salário.
A cada
ano, cada uma das dezenas de agências dos Estados Unidos disputa verbas no
Congresso. Para manter seus empregos precisa ter, ou, se não tiver, inventar
inimigos.
Só as 12
agências do Programa Nacional de Inteligência consomem US$ 52,6 bilhões de um
orçamento geral estimado em US$ 90 bilhões. A CIA briga por seu orçamento de
US$ 22 bilhões. A NSA por seus US$ 16 bilhões…
Idem o
FBI, a DEA…. Agências e espiões lutam também por seus empregos e salários. Para
tanto, como soube o mundo nos últimos meses, espionam até a mãe e o pai.
A
presidente Dilma e o presidente Obama se encontrarão na Rússia, no G-20.
Depois, Dilma discursará na ONU. A visita a Obama e Washington está marcada
para 23 de outubro.
Até lá os
Estados Unidos terão que se desculpar. Ou, ao menos, diplomaticamente fazer de
conta. Se isso não ocorrer, restarão duas alternativas ao Brasil: manter-se de
pé, ou se agachar.
Extraído do Terramagazine
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