De Porto Alegre (RS)
Aqui e ali vou deixando pistas da minha existência humilde. Um texto, um filme, um filho. A ideia de que as minhas pistas se reproduzam e reverberem de alguma forma é tentadora, mas é vã, além de inútil. Mesmo assim me considero um otimista. Aliás, já disse que não acredito em um pessimista vivo. Portanto sou um otimista por obrigação, isto é, por interesse: sou um "otimista de resultado".
1- Fundamental para um otimista é manter a capacidade de ilusão.
2- Ilusão e amor são sinônimos. Quando alguém diz para outra pessoa "eu te amo" , ela, na verdade, está dizendo "eu me iludo".
3- Nem toda arte é amorosa, mas todo amor é uma espécie de arte (o ódio também). Alguém que é capaz de amar é sempre um artista.
4- O amor é uma invenção dos adultos.
5- As crianças não amam e também não são artistas; elas não precisam fabricar ilusões, a ilusão vem de brinde na infância.
6- O paradoxo é que o amor adulto é uma busca do estado de não amor, o estado infantil. Todo adulto que ama é um adulto que procura ser criança.
7- Costumamos apressar o crescimento das crianças ordenando a elas que tenham responsabilidade. Quanto mais responsável é uma pessoa mais rápido ela deixará de ser criança; uma vez adulta, a equação se inverte, o estado de felicidade pressupõe uma certa irresponsabilidade.
8- É difícil ser adulto, a criação do amor é complexa. Ainda mais sendo pai cuja necessidade de ser criança vem junto da obrigação de cuidar de uma.
9- Embora não amem, as crianças são capazes de reconhecer o amor dos pais por elas. Baseado nisso ela estará mais apta para um dia inventar uma forma, de mesmo tento crescido, criar uma criança dentro de si.
(Há um bom exemplo em cartaz, o filme "A árvore da vida", do Terrence Malick . Nele, as crianças - especialmente uma - põe em dúvida o amor do pai rigoroso. Mas uma perda próxima irá restabelecer a verdade. O amor tem formas estranhas de se manifestar.)
10- Beleza e inteligência ou qualquer talento específico são avaliados como qualidades de uma pessoa. Mas isso é sorte, não é mérito. Sorte importa, mas é a capacidade de amar de uma pessoa que contém o verdadeiro mérito (talvez único) que ela pode ter.
José Pedro Goulart é cineasta e jornalista.
Fale com José Pedro Goulart: zp.zepedro@terra.com.br ou siga @ZPgoulart no Twitter
Extraído do site Terramagazine
Assino embaixo de tudo o que o cronista acima escreveu em seu texto, e digo mais: vivo uma experiência de amar absurdamente infantil e idiota, mas cada vez me convenço de que essa coisa de amar acontece exatamente assim, mas só agora me convenci disso...
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