quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Novelas, pois é, amigos, tá tudo tão parado que ando assistindo...


Dia desses conversava com uma amiga e um senhor de meia idade entrou na conversa pra perguntar se aquela “moça da novela”, perguntava o cidadão se existe mesmo no mundo real gente como ela... Fui atraído pelo artigo que transcrevo abaixo, porque o tal personagem, Norma, da novela “ Insensato Coração” merece da articulista que transcrevo abaixo, uma análise interessante... Em tempo, para que ninguém fique muito preocupado, a novela a que venho assistindo quase todo dia é esse interessante folhetim que até o nome é muito criativo, sem falar na abertura, inspirada em xilogravuras de cordel, inspiradamente também chamada “Cordel Encantado”, com referências a cangaço, beatos, reis e rainhas, com personagens hilariérrimos, como o delegado Batoré, o poeta Quiqui, o prefeito e a prefeita, o galinha Nassif... Claro que eu andei fazendo isso por conta das férias das aulas da Uespi, que sim, já me matriculei para o terceiro período, afastando por enquanto a idéia de desistir de continuar o curso... Mas fiquem com o artigo da articulista da Folha de São Paulo, Nina Lemos, porque tem umas idéias até interessantes sobre mulheres da ficção folhetinhesca de nosso dia a dia, tão ou mais ou menos parecidas com as da real...
                        NÃO EXISTE MULHER COMO NORMA  
A personagem ícone da novela "Insensato Coração", que acaba sexta-feira (19), é Norma, aquela que foi assassinada ontem na trama. A moça, interpretada por Glória Pires, é a grande estrela. Normal. Novelas precisam de protagonistas. E também de assassinatos. Só que, no caso de "Insensato", tudo é mais complexo.
"Mas a Norma é do bem ou do mal?", perguntou ontem uma amiga pelo Twitter. Difícil explicar. Ela era do bem: uma enfermeira boazinha e infeliz (a mulher carente é uma personagem muito comum na trama das nove). Além de carente, era burra. E caiu no golpe do psicopata Léo e foi presa. Saiu da prisão disposta a se vingar. Ficou milionária. Se vingou. E depois se apaixonou de novo pelo psicopata (como?). Puro surrealismo. Mas é uma NOVELA. Não vamos esquecer esse detalhe que diz tudo.
Até aí, normal. Quem assiste a uma novela não espera coerência e está acostumado com enredos que envolvem prisões, mudanças de personalidade, pessoas que falam em línguas esquisitas, mágicas etc. A questão: boa parte do público começou a achar que toda mulher no fundo "é meio Norma".
"Ela mostra no espelho o que as mulheres são e não assumem", disse uma MULHER no Twitter. Espera. A própria moça se identifica com uma idiota que é sacaneada por um psicopata e depois volta para ele porque o amor é uma coisa louca. As revistas de fofoca logo começaram a fazer reportagens sobre mulheres que "também se vingaram".
"Ah, até parece que você não conhece uma mulher como a Norma", perguntou um amigo, em tom de desafio. Não, não conheço. Conheço seres humanos que se apaixonam por pessoas "erradas", caem fora, sofrem, voltam, separam. E isso vale para mulheres e homens.
O outro personagem da trama é o psicopata Léo, um monstro, capaz de matar, dar golpe, ser cruel. Até agora não vi ninguém dizer que todo homem "é meio Léo". O que seria de fato um absurdo, porque realmente os homens não são todos psicopatas, assassinos e mentirosos (Deus nos livre). Mas Norma, que também é assassina, carrega um pouco de todas as mulheres, dizem.
Somos mal amadas, vingativas, loucas e, acima de tudo, otárias. Prontas a cair no conto de um monstro várias vezes. Mais surreal que a novela (e a cena do assassinato, que mais pareceu comédia pastelão) é pensar que em 2011 muita gente ainda acha que as moças são parecidas com uma personagem tão absurda. Vamos mal. 

Nina Lemos tem 40 anos e é carioca exilada em São Paulo. Escreve para a "Folha" desde os anos 90 onde, entre outras coisas, atuou como colunista com o trio 02 Neuronio. É autora de cinco livros com o grupo e do romance "A Ditadura da Moda". Atualmente é repórter especial da revista "Tpm".

Um comentário:

  1. Meus amigos, em dezembro faço tres anos que voltei pra cá pro Piauí. De lá pra cá, principalmente quando voltei cá pra Campo Maior, janeiro de 2009, tenho me envolvido com personagens da vida real que são mais fascinantes do que personagens de ficção que ocasionalmente "conheço" pelo pouco de novelas a que assisto. Não sei se teria conseguido suportar o tédio de por cá viver,sem esses personagens reais que abrilhantam minha vida de meio ermitão que ainda não "baixou" de fato na realidade local... Aqui e ali por aqui, falo dessas criaturas... Comecei um dossiê sobre elas, para um dia trabalhá-las ficcionalmente como dramaturgo ou romancista, mas tenho me envolvido de tal maneira com elas que isso me sufoca a capacidade de me distanciar de seus dramas pessoais que terminam virando meus, de tal forma que não consigo mais viver sem elas... Em Brasília eu tinha um amigo com quem conversava quase diariamente, que eu costumava falar pra ele da obsessão que eu tenho desde que me entendo, por personagens fictícios que me "perseguem" dedsde que existo... Loucura, claro, o cara me sugeria procurar um psiquiatra, e eu lhe dizia, que se deixasse de me envolver com essas criaturas, que às vezes se tornam reais no meu dia a dia, enlouqueceria... Isso é real...

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