Ricardo Carvalho e Soraya Argegge 29 de julho de 2011 às 9:00h
Em 1999, cansado de ver os pais derramarem o suor- em terras alheias, Osvaldo Alves decidiu unir-se aos acampamentos do MST. Desde então, participou de cerca de 50 ocupações Brasil afora. Passados 12 anos e três eleições presidenciais, Alves ainda vive sob as lonas, atualmente em Iaras, no interior paulista. Governado pelo partido que ele ajudou a eleger três vezes e que no passado defendia a tese dos sem-terra, ele ainda espera. “Se o governo quiser mesmo, ele chega aqui hoje, regulariza tudo e dá condições para todo mundo produzir com igualdade.”
Ele não foi avisado, mas o sonho da reforma agrária no Brasil agoniza. Não deixa de ser irônico que as últimas pás de cal tenham sido despejadas por governos petistas, partido historicamente ligado aos movimentos sociais do campo. Mas é fato.
Levantamentos revelam que os gastos com distribuição de terras caem a cada governo petista, enquanto a concentração se mantém como na ditadura.
Levantamento inédito produzido a pedido de CartaCapital pelo Instituto Socioeconômico (Inesc), especializado no tema, revela que os gastos efetivos com distribuição de terra declinaram no segundo mandato do governo Lula – e continuam a cair nos primeiros meses de Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, apesar do fla-flu que também nesse quesito divide os partidários de Fernando Henrique Cardoso e Lula, a concentração de propriedades no meio rural continua praticamente a mesma do alvorecer da ditadura. Na realidade, aumentou. O Índice de Gini, em 1967, era de 0,836 (quanto mais perto de 1,0, mais concentrado é o modelo). Em 2006, data do último Censo Agrário do IBGE, era de 0,854.
Outro dado, do mesmo censo, dá uma dimensão mais clara da concentração. As pequenas propriedades, com menos de 10 hectares, ocupam 2,36% do total de terras, embora representem quase metade (47,86%) dos estabelecimentos rurais. Já os latifúndios, com mais de mil hectares, somam menos de 1% das propriedades e controlam 44,42% das terras, situação com poucos similares no mundo.*
*Leia a matéria na íntegra na edição 657 de CartaCapital, nas bancas do país.
Falar mau dos governos petistas tem seus riscos. O mais perigoso é o de que criticando eles, indiretamente se elogia o que fizeram os do PSDB, do PMDB, ou do PFL. A matéria da Carta Capital é instigante porque nos faz pensar naquilo que meu amigo Luiz Eduvirges pelo menos uma vez por semana me procura para por num papel um desses "esquecimento" de que padecem o partido que fundou aqui e seus companheiros de luta que, de tão ocupados com seus afazeres cotidianos, de tocar as máquinas públicas que lhe tocaram fazer funcionar, estamos perdendo a luta por essas demandas históricas das esquerdas brasileira, tipo reforma agrária?
ResponderExcluirAs máquinas públicas que alguns companheiros tocam, envolvem interesses que não necessariamente são iguais aos do partido ou de seus mlilitantes... Isso não pode deixar de ser considerado, quando se critica os governos petistas. Chegar à presidência da república, a um governo estadual ou uma prefeitura municipal, não significa, infelizmente, que se vai poder tudo aquilo que é demanda histórica do partido. Em torno da coisa pública que se administra, existem interesses de todo tipo. Numa democracia formal cuja estrutura política, jurídica, institucional, é eivada de distorções seculares, achar que em quatro, oito anos, vai se mudar radicalmente alguma coisa, é sonhar demais, talvez... Ou não?
ResponderExcluirA experência de poder tem seus escolhos e desafios porque nem todos de nós que queremos ou conseguimos partilhar alguma experiência de poder está preparado para, nessa experiência, usá-la em favor de tudo, menos de interesses pessoais ou de grupos... O cidadão chega ao poder municipal depois de anos tentando isso, ele e o grupo que ajudou a elegê-lo. Chega ao poder e no poder se ilude de que esse poder pode lá adiante lhe fugir das mãos e quando num passe de mágica vão-se os anéis e os dedos, fica a amarga frustração de que nosso partido é igual aos outros que não tinham os compromissos históricos que o nosso... Vi esse filme em Brasília, quando o senador Cristovão Buarque não conseguiu se reeleger depois de um mandato em que mau uma categoria como a de professores ou policiais amaeçava entrar em greve ele ficava querendo renunciar (deixei em Brasília que conhecida que me dizia que nunca conheceu um homem público mais "frouxo" do que o senador...), de formas que, é interessante que se veja a experiência de poder como um desafio que, se não vencido, passa a impressão de que o PT não é um partido diferente...
ResponderExcluirNo comentário anterior, onde disse, entre parêntesis, "que conhecida", quis dizer "uma conhecida"... Só pra fechar esses comentiozinhos por aqui digo que, em Brasília o PT ficou fora do poder por mais de dez anos e só voltou agora por causa das trapalhadas em que se meteu o coronel joaquim e suas quadrilhas...
ResponderExcluireste blog e engraçado, o dono posta as reportagens e ele mesmo faz comentarios. Como diz o ditado "morro e não vejo tudo"
ResponderExcluirAnônimo, tu acha que eu ia criar um blog só pra tu escrever nele comentários idiotas como o acima?
ResponderExcluir