segunda-feira, 11 de junho de 2012

OS CAMPOS SÃO MAIORES, AS MENTES NEM TANTO...



Amigo me pergunta como é que eu, um sujeito que ele considera cosmopolita, consigo sobreviver em Campo Maior, com tudo o que a cidade tem de pequeno, mesquinho, atrasado, baixo, rasteiro... Eu digo que na verdade sinto na pele diariamente tudo o que ele descreveu como sendo o que ele  vê nos poucos dias que passa por aqui a passeio, pra reencontrar os amigos nos festejos e se divertir... Mas por uma questão de sobrevivência, em todos os sentidos, faço de conta que as mesquinharias, as baixarias que me agridem diariamente, são dirigidas a outra pessoa que não eu... O bom de se envelhecer é que na verdade, a gente já passou por tanta coisa difícil na vida, que certas coisinhas não conseguem alterar o humor ou a visão que a gente tem das pessoas, da cidade, do cotidiano de viver aqui com tudo o que isso signifique...  Outra amiga me pergunta o que me prende na cidade... Eu lhe digo que alguma coisa aqui me faz sentir como não me sinto em lugar nenhum onde já morrei, ou seja com a sensação de que sou um estrangeiro, um desterrado, um exilado... Que coisa é essa, ela me pergunta, e eu lhe respondo, o calor talvez, alguma lembrança boa da infância ou da juventude, época em que se achava que a vida valia a pena viver pelo que ela tinha de esperanças e de sonhos que, a maioria, não se realizou... Não vou dizer que vivo aqui dessas lembranças, mas elas me ajudam a suportar que a maioria das pessoas com quem convivo estejam em outras, preocupadas com coisas que não cogito a essa altura da vida, ou seja, ganhar dinheiro, ter um carro, uma casa, uma família, um emprego melhor, um diploma de curso superior, coisas pelas quais as pessoas batalham arduamente e que eu, confesso meio abestalhado, atribuo a uma certa preguiça ou desinteresse mesmo de alcançar, explicando que sempre fui um pouco assim, só estou um pouco pior pela própria idade, etc... Já batalhei muitas batalhas, perdi a maioria, mas ganhei a experiência quase certeza de que não me arrependo de quase nada do que fiz ou deixei de fazer... Isso pelo menos me dá a sensação de que vale a pena continuar vivo e acreditando que o viver, apesar de tudo, faz sentido, não passando pros mais jovens nenhum tipo de pessimismo ou amargura, o que não considero pouca coisa, a essa altura do destino...

Um comentário:

  1. Que narrativa caro Zan. Realmente vida é um grande ciclo onde todos nós estamos ligados sem termos noção desta verdadeira ligação, cada qual com seu valor, sua importância, cada qual lutando à sua maneira por aquilo que acredita, e fazendo o possível para tornar este mundo melhor, o resto são apenas aparências. O Almir Sater relata em sua música Tocando em Frente "Ando devagar, porque já tive pressa, e levo esse sorriso porque já chorei demais, penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente".

    Bom término de festejo à todos os conterrâneos.


    sp,

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