domingo, 8 de abril de 2012

Lembranças de Mestre Ambrósio, Zé Limeira e os tempos de motorista de van...

Carro de um amigo me levando ontem na rodoviária de Teresina, um som que eu ouvia dirigindo a van vermelha vinho cheia de alunos do Colégio Militar de Brasília, dez anos atrás:
"Vi Zé Limeira
Descendo do firmamento...
Um batalhão de jumento
Vinha tocando corneta
Mais de cem anjo perneta
Celebrando um casamento

Vem pra fazer
Negócio de confiança
Pra ver pesar na balança
Cinco véi num dá um quilo
Mais de cem grama de grilo
No bucho de uma criança

Se Zé Limeira
Sambasse maracatu
Escuta o que eu digo a tu
Era rato, cobra e jia
Sapo, ticaca, cutia
Gogo, puiga, cururu

Se Zé Limeira
Sambasse maracatu
Cor de jumento era azul
Tinha juízo macaco
Veneno - cumê de rato
Tinha chifre gabiru

Em Zé Limeira
Pra prefeito eu vou votar
Bota uma lei pra lascar:
Nem real e nem cruzeiro
Bota  bosta por dinheiro
Pra ver o povo enricar

A maioria dos garotos era músico da orquestra da escola e curtia e se divertia demais com o som que eu tocava na van... Bons tempos, gente, apesar dos pesares...

2 comentários:

  1. Pinuca,
    Zé Limeira era conhecido como o Poeta do Absurdo. Sua poesia era pautada pelo paradoxo das idéias e pela a aplicação de uma lógica inteiramente irracional. Todavia, a sua mensagem era rica em rima e sabedoria.

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    Respostas
    1. Algumas estrofes minhas, em homenagem ao grande Zé Limeira.

      Foi num porto da Bahia
      Que Dom João chegou bem cedo
      Dava pra contar no dedo
      A bagagem que trazia
      Uma dúzia de bacia
      Dois fardos de algodão
      Gasolina de avião
      Do café trouxe a semente
      Duas bíblias uma de crente
      Outra do rei Salomão

      Cristo enforcou Jesus
      Na beira do rio Jordão
      Na noite de São João
      Num galho de cipó-cruz
      Comeu pirão com cuzcuz
      No meio da cabroeira
      Na noite de sexta-feira
      Cantou prosa e rezou missa
      José e Maria castiça
      Diria assim Zé Limeira

      No tempo da ditadura
      Eu rezei pro pai eterno
      Fez sol mas deu bom inverno
      Plantei fava e rapadura
      Veja só que formosura
      A “muié” de Barbosinha
      Se ela tivesse sozinha
      E o cachorro amarrado
      Eu levava ela prum lado
      E uma cuia de farinha

      O pai da aviação
      Por nome Drumon Andrade
      Sem dó e nem piedade
      Se atracou com Lampião
      Na bainha um facão
      Na matula um castiçal
      Gritou pra São Nicolau
      Acuda-me nessa hora
      Disse isso e foi-se embora
      Deixando um cartão postal

      Por causa da Ditadura
      O Brasil foi descoberto
      Um navio chegou perto
      Da curva da ferradura
      Dom Pedro fez a leitura
      Na borda da ribanceira
      Cabral trouxe uma cadeira
      Sem dó e sem ter clemência
      Proclamou a independência
      Diria assim Zé Limeira

      Jesus tirou diplomança
      De doutor em curamento
      No primeiro atendimento
      Passou a faca na pança
      Da mulher do rei da França
      Pra curar a joanéte
      Cego estando o canivete
      A mulher sentiu cosquinha
      Jesus com a cara lisinha
      Disse: "nega se aquete" !!

      Adão foi feito do barro
      Da beira do Rio da Anta
      Parou, bebeu uma Fanta
      Depois fumou um cigarro
      Tava passando um carro
      Com Madalena e João
      Ela tocando pistão
      Ele com a mão nos "joeio"
      Ergueu o dedo do meio
      E apontou pra Adão!

      O pai da "filosomia"
      Por nome Tristão da Cunha
      Teve encravada uma unha
      Prumodi um bãi d'água fria
      Gritô pra Virgem Maria:
      "Valei-me meu Pai Eterno
      Se não fizer bom inverno
      E meu feijão não vingá
      Vendo tudo que sobrá
      Vou pra feira e compro um terno"

      Dom Pedro e Napoleão
      Combinaram casamento
      Compraram apartamento
      Levaram cama e fogão
      Sem luz na escuridão
      Foi aquela "bagunceira"
      Funhaharam a noite inteira
      Depois ficaram de mal
      Hoje é um tal de quebra-pau
      Diria assim Zé Limeira

      Foi quando Napoleão
      Se elegeu Rei do Egito
      Menelau passou-lhe "um pito"
      Abolindo a escravidão
      Dom Pedro com um facão
      Disse: "O Brasil tá liberto"
      Lampião lá no deserto
      Achou aquilo engraçado
      Contratou um advogado
      Seu nome era Zé Roberto

      São João evangelista
      Rezou a missa do galo
      Foi no lombo dum cavalo
      Que Jesus cruzou a pista
      Desceu e mostrou a lista
      Com os quinze testamento
      Assoprou um pé de vento
      Rasgou cinco folha escura
      Só restou dez escritura
      Eu digo falo e sustento


      Um dia no paraiso
      Vi Caim chamando Adão
      Dizendo que o sacristão
      Na missa deu prejuizo
      Da cobra cortou o guizo
      Vendeu por cem mil cruzeiro
      Depois comprou um carneiro
      Assou porém não comeu
      Ouvi de um amigo meu
      Vai chover o mês inteiro

      Na cidade de Belém
      Por volta de meio-dia
      Vi passando uma cotia
      Com um bilhete de trem
      Deu duas notas de cem
      Prum vendedor de peneira
      Eu que voltava da feira
      Vi tudo e fiquei calado
      Mais um dia e tô casado
      Diria assim Zé Limeira

      Um artista aleijadinho
      D'um pau fez esculturança
      Mandou entregar na França
      No lombo de um jumentinho
      Não achando o lugarzinho
      Se livrou do carregado
      E passando num mercado
      Comprou vinho queijo e pão
      Passagem de avião
      Com o dinheiro arrecadado

      Um dia na Galeléia
      Tava Pedro acocorado
      Fazendo força um bocado
      Nisso passou uma "véia"
      "Sai pra lá sua mocréia"
      Disse Pedro em alvoroço
      Foi quando caiu um trôço
      E Pedro desenxavido
      Disse a velha: "ô trem fidido"
      E saiu pisando grosso

      Do cantar, foi no terceiro
      que o galo deu, quando Judas
      se enforcou em duas mudas
      grandes d'um abacateiro.
      Jesus foi quem viu primeiro,
      e fingiu saber de nada.
      Passou Pedro em disparada
      e gritou pra São Thiago:
      "Corre aqui e traz um trago,
      da cachaça amarelada."


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