Costumo entrar no Deusdedit Melo para assistir e eventualmente escrever alguma coisa sobre o que ali vi aqui neste espaço, usando minha pseudo condição de "jornalista"; funciona, mas às vezes não é fácil. Ontem foi um dia de experiências bastante especiais e por isso mesmo ricas em temas para algumas reflexõezinhas sem dor, tadinhas, sobre esse doloroso e espinhoso tema do poder ou no caso aqui, de despoder... Bato à porta por onde entram jornalistas e outros furões de espetáculos públicos menos votados e sou recebido grosseiramente por um cidadão vestido de preto com um cassetete na mão que me diz “que a hora de jornalista entrar já tinha passado, porque o jogo já tinha começado”... Minha reação foi de dizer que tinham esquecido de me avisar que o jogo começaria 15 horas, não 15:45, como costuma acontecer... Duvido que o sujeito tenha entendido minha argumentação, mas pra minha surpresa, me deixou entrar, mas o “esporro” daquela autoridade constituída ali naquele momento tão caro pra ele, coitado, chamou a atenção de quem estava ali por perto e eu adentrei ao estádio portando meu conhecido sorriso amarelo que exibo quando flagrado fazendo alguma bobagem menor... Entro e fico observando o jogo que já vai pra quase meia hora de começado e vislumbro junto ao alambrado, uma nesga de sombra pra onde me desloco e ali me sento encolhido, quando aparece a segunda autoridade ali presente, vestido com uma camiseta da gloriosa e briosa federação piauiense de futebol, perguntando o que faço ali encolhido naquele lugar proibido, fazendo um discurso palavroso sobre a invasão do campo de jogo por pessoas que não têm nada a ver com o jogo, etc.... eu lhe digo que sou jornalista, ele me pergunta pelo crachá, eu lhe digo que estou muito velho pra usar crachá, ele me diz que eu tenho que sair dali e eu lhe peço que me ajude me levantar dali, como dissesse a ele, se vossa excelência não me ajudar a levantar daqui, vossa excelência pode se irritar mais comigo e isso pode lhe estragar esse maravilhoso momento de sua bela vida de zeloso funcionário portando uma camiseta da fpf, uma prancheta e uma caneta... Deito-me na cheirosa relva ao lado de um policial, o Comercial faz o primeiro gol mas eu não ouso comemorar porque posso ser convidado a sair dali para me juntar à torcida ali pertinho do outro lado do alambrado... Um anãozinho se senta do meu lado, o preparador físico do azulão reclama que esqueceram da água e o calor deve estar torrando as vísceras de seus atletas, mas eis que o policial do meu lado pisa nas minhas preciosas mãos que lhes escreve estas mal traçada, e eu, rindo, claro, “companheiro, meu dedinho, o senhor está pisando nele...”, o policial se toca e me pede desculpas e eu lhe digo, que nada, o importante é sobreviver a isso sorrindo como eu faço... Finalmente o primeiro tempo termina e eu posso sair dali para ir me juntar à torcida do Comercial... O time joga bem, faz mais um gol, mas prega de cansaço e quase cede o empate, por que, como me diz um torcedor mais fanático, o jogo tinha começado muito cedo e eu que não me considero o mais fanático dos comecialinos, acho o time meio medíocre, mas graças a Santo Antonio, os times de Teresina, são dez mil vezes piores... Andar um quilômetro e meio à pé para assistir de graça a um jogo de futebol vale a pena mais pelas emoções extra-campos do que propriamente pelo jogo, podem crer...
Nenhum comentário:
Postar um comentário