sexta-feira, 20 de maio de 2011

O poder, quando corrompe

Mino Carta 20 de maio de 2011 às 10:24h

Silvio Berlusconi já não vive dias tão felizes. As eleições administrativas realizadas na Itália entre os dias 15 e 16 não favoreceram o seu partido ousadamente chamado Povo da Liberdade.
Praças importantes ficam nas mãos de prefeitos de centro-esquerda e a maior surpresa vem de Milão, a cidade do premier, onde a sua candidata, Letizia Moratti, em busca de reeleição, sai para o segundo turno em desvantagem em relação ao seu adversário, Giuliano Pisapia, esquerdista convicto.
Para tão fervoroso apaixonado pelo poder como Berlusconi, intérprete da ditadura da maioria a enxergar na oposição parlamentar e na Justiça que cumpre seu papel democrático a derradeira manifestação do comunismo, votos são combustível indispensável. Desta vez a colheita encolheu bastante ao registrar derrotas que pareciam impossíveis, de sorte a justificar quem fala de novo na antecipação das eleições políticas.
Berlusconi empenhou-se a fundo na campanha, mas sua retórica, mesmo exposta por uma rede maciça de televisão, não teve o efeito habitual junto a quantos ao elegê-lo envergonharam a Itália não menos do que ele. É lógico supor que as últimas desastradas façanhas do casanova da política italiana pesaram na balança eleitoral. Berlusconi é exemplar perfeito de quem se lambuza no poder. Porta-se como um sultão e se exibe suas fraquezas não é somente por obra de uma forma de jactância infantil, mas também, e sobretudo, porque certo de que tudo a ele é permitido.
Há nuances entre um abuso de poder e outro. O caso Strauss-Kahn, ao menos segundo meus reflexivos botões, é bem diferente. Antes de mais nada, dizem eles, como figura proeminente da política e da economia, ao contrário de Berlusconi, Strauss-Kahn é competente, e muito, e cogita de interesses bem diversos daqueles buscados pelo premier italiano. Que sempre se tratou de um sedutor era sabido, mas seus últimos lances donjuanescos chegam a revelar um traço doentio. Antes de explorar as benesses do poder, ele é vítima de si mesmo, e vai pagar caro por isso.
De outra natureza ainda é o caso do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, de características tipicamente nativas, de uma sociedade do privilégio vocacionado para a predação. O ex-ministro da Fazenda milita em uma categoria que no Brasil apresenta dimensões e tonelagem excepcionais. Os botões, insistentes, me levam a recordar personagens que influenciaram a política econômica brasileira nas últimas décadas, e ficaram ricos, melhor, riquíssimos, depois de deixarem seus cargos. Estabelecidas sólidas cabeças de ponte dentro dos gabinetes governistas, venderam a peso de ouro conselhos abastecidos pela chamada inside information. O próprio Palocci incumbe-se de desfiar um rosário de nomes ilustres que o precederam neste gênero de atividade. Sustenta, impávido, a seguinte tese: se eles pecaram, por que não eu?
A despeito de comportamento tão desarmado, não faltam elementos de surpresa, a começar pelo fato de que este desabrido pessoal fala de centenas de milhões como se fossem bagatela em um país tão desigual quanto o nosso. Capaz, contudo, de incluir quatro ricaços na lista dos cem mais enquanto não há um sequer a representar vários países do chamado Primeiro Mundo. Mas Palocci é um ex-trotskista, militante de um partido que até hoje se pretende de esquerda. E não falta quem acredite…
O desfecho do presente enredo é até imprevisível, mesmo porque o instituto da impunidade continua em pleno vigor. Neste exato instante, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Cesar Peluso, se empenha em busca de um caminho para agilizar a Justiça brasileira.
É esforço louvável nesta nossa terra, onde os ricos não costumam correr o risco de ir para a cadeia e onde um criminoso comum como Cesare Battisti ainda espera pelo asilo político, concedido por um Estado disposto a assinar um Tratado de Extradição com a Itália sem confiar na Justiça deste país, e até a condená-la.
Aliás, o próprio Berlusconi a ataca sem quartel. Meus botões malignamente sugerem que talvez o premier italiano tenha alguma peculiar semelhança com variados esquerdistas brasileiros.

Mino Carta é diretor de redação de CartaCapital. Fundou as revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital. Foi diretor de Redação das revistas Senhor e IstoÉ. Criou a Edição de Esportes do jornal O Estado de S. Paulo, criou e dirigiu o Jornal da Tarde. redacao@cartacapital.com.br

7 comentários:

  1. Milton - de Goiânia (GO)20 de maio de 2011 às 10:26

    ... QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA! Zan li por aí que tem um exército de corruptos começando pelo filho do FHC e o pai, Serra e família, Kassabi, e mais ainda, o jovem AÉCINHO que estão com o c... que não cabe um trem do metrõ do Serra que os ricos não querem que passe lá no bairro dles. Quem é que vai ser o primeiro condenar este outro bandido?

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  2. Realmente Milton o silêncio sepulcral está sendo mantido no cemitério dos vampiros e dos lobos da política geral do Brasil. O Palocci está louco pra ver quem é o primeiro ficha limpa que vai lhe cuspir ou jogar pedra. Ele sabe que não vai ser uma multidão de gente que talvez nem saiba ou não esteja interessado nisso. Estão preocupados é saber se o filho vai pra faculdade e o chefe da casa está empregado pela primeira vez com carteira assinada.
    A Vilma está com um problemão em ver como vai despedir o Palocci.

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  3. A midia brasileira, toda ela, é cúmplice das patifarias da direita, desde quando se entende como parte dela, ou seja desde que existe. Quando a esquerda comete deslizes como esse do Palocci e outros por aí, ela cai matando pra ver se disfarça que ninguém percebe o rabo preso dela com ela. Pra ficar no exemplo da grande colunista da Folha, Eliane Cantanhede, as relações do marido com a direita, lhe deixam sem condições de analisar política brasileira, com um mínimo de isenção. Vamos ver se Dilma é mais homem do que Lula, que na hora de acudir ZéDirceu, amarelou covardemente... Amigo meu de infância aqui, igual um personagem de Nelson Rodrigues, de "lábio rútilo e olho trêmulo", babava agora de manhã no meu ouvido:"isso é jogada do ZéDirceu..." Tem que rir, não tem jeito...

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  4. Mino Carta tem moral pra falar da esquerda brasileira porque é um dos poucos jornalistas brasileiro que, mesmo com as obsessões típicas de um passional que mete os pés pelas mãos na ânsia de botar gente como Daniel Dantas na cadeira, tem um histórico de ter feito algo que, pra mim, significa algo inusitado na relação entre patrão e empregado na imprensa brasileira: já deu de pé na bunda no seu patrão nos corredores da redação da poderosa Editora Abril, como reação a uma proposta indecente feita a ele por aquele...

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  5. Só num país onde se cultiva a hipocrisia como modo de vida, se engole a idéia de que prum mesmo fato, se vê ele por óticas diferenciadas, ou seja, a lei do dois pesos, duas medidas... Quem é que vai apedrejar Mailson da Nóbrega, ARmínio Fraga, Pérsio Arida e o resto da curriola, pelo que fizeram no passado e fazem no presente?

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  6. Não sou PETISTA, mas votei, voto e votaria em personagens isoladas deste partido. Mas convenhamos, um erro nao pode justificar outro. Se, no passado ocorreram erros, problemas, desvios de conduta de muitos dos que hoje jogam pedras e mais pedras no Sr. Antonio Palocci, não podemos encobrir o fato nebuloso dele esta nesta enrrascada de ter que comprovar seu enriquecimento em tao pouco tempo. Se ha suspeita de algo errado, que se apure e se puna com o rigor da lei (que deve ser cega, para todos, não somente para aqueles que não tem dinheiro nem apadrinhados politicos), Espero que se comprovando tal fato, a nossa presidente Dilma seja positiva e decidida, o que faltou ao nosso ex-presidente Lula que tergiversou e foi complacente, benevolente com o Sr. Jose Dirceu e muitos do PT. A regra, a lei tem que ser pra todos, independente de cor, religiao, sexo, partido politico. Espero que se apure os fatos, se for verdade que se puna, se nao for, que se de ao injuriado o poder da resposta bem como da punição rigorosa dos que lhe acusaram.
    è o que penso a respeito.

    Abraço Zan

    Andrade

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  7. Eu sei responder essas suas perguntas. Pessoas desinformadas e que se agarram no ouvi dizer mais não sei onde diabo e nem quem é. são pessoas que tem o maior prazer de ser boçalzão sem nem saber direito o que diabo tá acontecendo, o cara ou a cara quer é falar besteira. Resumindo sr. zan, são pessoas inúteis na construção de uma sociedade justa e decente. Não contribui com nada. Até porque o que estão lendo é lixo do Brasil antigo.
    Xô.

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