Mauricio Dias 27 de maio de 2011 às 11:58h
“Convicções são um luxo, meu caro.
Reservado para aqueles que não
participam do jogo”
Reservado para aqueles que não
participam do jogo”
A frase em epígrafe é de Marcílio Andrade Xavier, diplomata brasileiro que se projetou no Itamaraty nos últimos 40 anos. Max, apelido que soma as iniciais do nome dele, é um personagem que vai muito além dos limites da sede do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília. Ele é a síntese daqueles que, em qualquer dos Três Poderes da República, assimilam e usufruem dos vícios das funções de mando. Max é, porém um personagem de ficção capturado da realidade pelo envolvente romance, recém-lançado, O Punho e a Renda (Ed. Record), do- -embaixador Edgard Telles Ribeiro.
Só aparentemente, no entanto, trata-se de uma figura meramente literária. Se fosse assim não cuspiria verdade tão nauseantemente real como aquela que, por acaso, dá sustentação à resposta do ministro Antonio Palocci, da Casa Civil, ao tentar apagar o rastro de suspeitas deixado pelo faturamento que teve, em tempo recorde, graças a um controvertido trabalho de consultoria empresarial.
Eis um trecho da resposta anunciada por ele no calor da hora: “No mercado de capitais e em outros setores, a passagem por Ministério da Fazenda, BNDES ou Banco Central proporciona uma experiência única que dá enorme valor a esses profissionais do mercado. Não por outra razão muitos se tornaram, em poucos anos, banqueiros como (…) Pérsio Arida e André Lara Rezende (…), Pedro Malan ou (…) Maílson da Nóbrega”, diz a nota que distribuiu.
Tudo aparentemente simples e legal. A resposta é, no entanto, reveladora. O argumento expõe, com falsa naturalidade, as relações condenavelmente íntimas entre governo e mercado. Todos os citados, na nota oficial do ministro, são iguais perante a falta de lei. Um universo onde as convicções são consideradas “um luxo” só possível para quem não está no jogo, como judiciosamente pondera o cínico Max.
O governo enfrenta um incêndio que talvez ainda possa ser apagado. Contam, para isso, duas circunstâncias: a oposição é fraca numericamente e politicamente inconsistente. Além disso, Palocci, supervisor da distribuição dos cargos entre os aliados, tem o poder de nomear os fiéis e demitir os hereges.
Inevitável o estouro da boiada na base governista, se surgir um fato novo e contundente. Ou, ainda, se o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, decidir por algum procedimento administrativo em torno do caso.
A soma das dúvidas favorece as especulações. Eis uma delas: por que a contabilidade da empresa Projeto, de Palocci, registra verbas polpudas recebidas em pleno processo eleitoral? Teria sido ele, com o trânsito fácil entre os empresários paulistas, um captador informal de recursos para a campanha do PT em 2010?
O poder não dá passagem a procissões virtuosas. Mas tudo isso se choca com decisões da presidenta Dilma nos primeiros dias de administração. Ela emitiu sinais de que pretendia, em nome da probidade, fazer escolhas mais cuidadosas para a administração, como fez, por exemplo, em Furnas.
A dificuldade política quem sabe possa ser superada. Não há mais como, no entanto, sair moralmente ileso do jogo. Nem Palocci, e se ele ficar, nem o governo.
Maurício Dias é jornalista, editor especial e colunista da edição impressa de CartaCapital. A versão completa de sua coluna é publicada semanalmente na revista. mauriciodias@cartacapital.com.br
Extraído da CartaCapital, amanhã nas bancas de todo país
Uma sociedade minimamente preocupada em ordenar juridicamente cada atividade dos cidadãos que nela vivem, devia aproveitar o auê em torno do dinheiro que o paloqui ganhou em tão pouco tempo, para simulacramente que seja, mascarar uma lei ou conjunto delas, que dispusesse sobre o fato de agentes do estado que são políticos e assumem cargos de confiança e depois viram consultores de empresa e duma hora pra outra ficam milionário... claro que isso não interessa principalmene à midia, entre outros, por razões não totalmente difíceis de se deduzir...
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